Quem ainda não visitou a exposição “Homem do Campo e Outros”, do artista plástico Marcelo Cunha, referência da Associação de Pintores com a Boca e os Pés, tem até segunda-feira, 20, para fazê-lo. A mostra, que retrata detalhes da vida da população rural, está instalada no Espaço Zanine, situado na Estrada da Usina Velha, 600, no Village Búzios.
Graças ao apoio de um grupo de amigos e da Prefeitura Municipal, através da Secretaria de Cultura, o artista realiza o sonho de expor na cidade que aprendeu a amar desde 2016, quando esteve no famoso balneário pela primeira vez. Naquela oportunidade, Marcelo e um grupo de pintores da APBP participaram das atividades do Projeto Destino Educação, uma realização da Revista Destinos Serra & Mar em parceria com o Geribá Tennis Park.
A importância da acessibilidade
Entre os diversos temas que o Projeto abordava com estudantes locais e de outros municípios, despertando o interesse dos jovens para o Turismo, um dos mais importantes foi a questão da acessibilidade para uma cidade – hoje, o assunto percorre o Centro Histórico, onde diversas ruas foram pavimentadas, recentemente.
Naquela oportunidade, os pintores – todos cadeirantes – ficaram muito restritos ao espaço do clube e do hotel onde ficaram hospedados. Mesmo assim, pintaram telas dos principais pontos turísticos da cidade, quadros que foram enviados para a Suíça, onde fica a sede da APBP, concorrendo à chance de fazerem parte do catalogo de calendários e cartões da entidade, distribuídos no mundo inteiro.
Um dos objetivos do retorno de Marcelo a Búzios é concluir uma tela iniciada há sete anos e que ainda depende de observação final para ser concluída. Isso acontecerá na manhã de domingo, pouco depois de sua chegada.
O outro objetivo de Marcelo é prosseguir nos ensinamentos que vem dando ao buziano Ezequiel Simas, que sofre de paralisia cerebral, e nutre o sonho de ingressar na APBP. Ezequiel tem ajuda permanente do artista Wilson Mendonça, que o recebe periodicamente em seu ateliê, próximo à praia de Geribá. Os três estão combinando um trabalho intensivo durante o mês de janeiro. Farão um preparatório para Ezequiel se submeter aos testes de admissão na Associação. Se tudo der certo, Búzios também terá o seu representante na Associação, de prestígio internacional.
Coração de estudante
Desde a abertura da exposição, no início do mês, Marcelo compartilha com alunos da rede municipal a sua história pessoal, de resignação e superação. Sua trajetória é, verdadeiramente inspiradora.
Aos 21 anos, era um atleta e desenhista, um rapaz proativo, que dedicava os finais de semana a comandar turmas de adolescentes em jornadas ecológicas. Mas um acidente de mergulho, do alto de uma cachoeira, em 1991, o deixou tetraplégico. Apesar da perda dos movimentos, Marcelo encontrou na pintura com a boca uma nova maneira de expressar a sua arte. Em 1994, começou sua carreira como pintor e transformou a paixão em profissão. Desde então tem participado de diversos concursos, e vencido muitos prêmios de projeção nacional, concorrendo com pintores que usam as mãos.
Um desses prêmios veio com a tela “O Canavial”, que se encontra em outra exposição, em São Paulo, pioneira da coleção exposta no Zanine. Ao observar imagens de colheitas numa revista, o pintor acreditou que elas poderiam ganhar mais vida, se transpostas para a tela. Para fazer cada um desses quadros, Marcelo repete milhares de movimentos semelhantes, que começam ao molhar o pincel na aquarela até levá-lo ao quadro, onde dá um risquinho. Os riscos diferem em tamanho, espessura, direção e tonalidades. Somados, criam um efeito em conjunto, numa técnica similar à dos impressionistas. Marcelo batizou-a de “risquismo”.
– Quando entendi as dificuldades enfrentadas pelo Homem do Campo, comparei com as minhas. Concluí que, em mundos diferentes, vivíamos situações bem parecidas. E passei a ter por essa gente um carinho mais especial ainda ao constatar que muitas pessoas que visitam as minhas exposições possuem parentes que trabalham em lavouras – comenta.
O buziano da terra
O Secretário Municipal de Cultura de Búzios, Romano Lorenzi, lança um outro olhar sobre essas telas:
– A exposição Homem do Campo retrata, de alguma forma, um pouco do trabalho que a Secretaria vem desenvolvendo para preservar os valores do homem da terra, no nosso caso, a caiçara, o quilombola, a marisqueira, e o pertencimento dessa gente ao território. A cidade é conhecida por suas praias, mas o buziano é um homem da terra, é um homem do campo.
E arremata:
– A exposição é fenomenal, mexe com a alma da gente. Tanta gente reclama de pequenos detalhes da vida e o Marcelo vem nos trazer luz. Espero que esta exposição consolide um sonho que alimentamos há muito tempo em Búzios, de ter um mundo para todos, onde tenhamos o direito de ir e vir para onde bem entender.
Exposição HOMEM DO CAMPO E OUTROS, de Marcelo Cunha
Escola de Artes e Ofícios Zanine
Secretaria Municipal de Cultura e Patrimônio Histórico de Armação dos Búzios
Direção: Kelly Penha
Curadoria: Ricardo Howat
Assistência e Montagem: Duclea Porto da Cruz (Kaka) e Leonel Lima Costa (Tei de Negazinha)
Comunicação e Produção Gráfica: Pilar Pozes / Educação: Marcelo Sampaio
Apoio de um grupo de amigos de Búzios, formado por:
Neusa Maria Ladeira Nardelli, Maria Tereza Bandeira Maia, Beatriz Paixão Martins, Ana Cristina Nunes Barbosa, Ana Maria Gardini, Oswaldo Benjamin, Doris Pereira d´Alincourt Fonseca, Cirineu da Silva Santos, Angel Waiz, Sylvia Azevedo, Alejandro Lozza, Janice Kunrath e Tomas Weber.
Cobertura: Revista Destinos Serra & Mar
