“Eu não sossego enquanto não aprimorar a minha técnica para conseguir fazer parte da Associação dos Pintores com a Boca e os Pés” – mesmo falando com dificuldade, as palavras de Ezequiel Simas, 42 anos, tornam-se claras demais para o grupo de amigos que tenta ajudá-lo a atingir sua meta. A doença contrai a musculatura do pintor de tal forma que ele não consegue andar, nem movimentar os braços, destinando-lhe uma única alternativa para praticar a arte que tanto ama: usar a boca para produzir telas a óleo.
O grande sonho de Ezequiel é fazer parte da APBP, Associação internacional que reúne pintores com deficiências, como ele, que produzem telas vendidas no mundo inteiro, impressas em calendários, cartões de Natal e outras peças gráficas cuja renda é dividida entre os próprios autores.
O OUTRO IDEAL – Mais do que obter meios para sobreviver, o sonho de Ezequiel vai além. “Teria muito orgulho de representar o meu Estado, o Rio de Janeiro, e a minha cidade, Armação dos Búzios, entre os integrantes da Associação” – afirma.
São metas que não apenas impulsionam o artista, como motivam pessoas que se solidarizam com a sua luta – deflagrada anos atrás, durante a instalação do Projeto Destino Educação, promovido pela revista Destinos Serra & Mar e o Geribá Tennis Park, em Búzios. Numa das versões do Projeto, que focava a necessidade de projetos de acessibilidade em destinos turísticos, Ezequiel vislumbrou a sua grande oportunidade quando assistiu artistas da APBP pintando cenários do famoso balneário, onde nasceu e vive até hoje.
SOLIDARIEDADE – Um dos grandes entusiastas de Ezequiel é o artista plástico Wilson Mendonça, cujo ateliê funciona nas dependências do Geribá TP. Will, como é carinhosamente chamado, promoveu, recentemente, numa das séries do evento Quarta D´Art, a Exposição Ezequiel Simas, para que admiradores de pintura e outros artistas conhecessem de perto o trabalho de Ezequiel e ele próprio, que lá estava acompanhado de familiares e amigos.
Will tem sido um amigo e tanto. Estuda técnicas que facilitem a movimentação do pintor, cria adaptadores para encaixar o pincel na boca e estuda procedimentos que poupem esforços na hora da escolha das tintas. Antes de começar o treinamento, ensina como o pintor deve trabalhar a concentração, com exercícios de meditação e respiração. Quando é necessário um esforço maior como, por exemplo, no dia da exposição, o próprio Will pega Ezequiel no colo para tirá-lo da cadeira de rodas e colocá-lo no automóvel que o transportará.
AS FLORES E O VASO – “Fiquei emocionada quando vi aquele senhor entrar na nossa casa e pegar o meu filho no colo. Ele está ajudando o Ezequiel a acreditar em si próprio e isso tem sido maravilhoso para ele, que vivia triste e deprimido” – comenta dona Noêmia Simas de Carvalho, mãe do pintor.</span>
Ezequiel está construindo a sua meta. Traçou um ideal e está lutando por ele. Às vezes, se atrapalha por causa da ansiedade. Will recorda de uma aula:
“Um dia, ele me disse, preocupado: ‘Adoro pintar flores, mas me complico quando faço o vaso…’ Aconselhei: Então, faça as flores no jardim. Não precisa ser num vaso, Ezequiel. Tenha calma e progrida um dia de cada vez. Calma, você vai chegar lá.”
Will e Ezequiel têm estudado a vida e a obra de Pablo Picasso, seus segredos, suas técnicas. Agora, estão pesquisando Monet.
METAS E DIFICULDADES – Filiado à Associação de Pintores com a Boca e os Pés, o artista plástico Marcelo Cunha, um dos principais incentivadores de Ezequiel assim define a luta do companheiro: “Acredito que um dos registros do filósofo alemão Goethe defina o momento vivido pelo amigo Ezequiel: “Quanto mais um homem se aproxima de suas metas, tanto mais crescem as dificuldades”. Diante dos percalços, me alegra acompanhar a sua persistência, resultando na clara percepção de que tudo tem contribuído para o surgimento de um grande artista, enfim encontrando o foco necessário. Vejo nele uma nova atitude, o que me permite olhar com esperança ao futuro de realizações que o aguarda.
Ezequiel é muito grato aos amigos que o cercam e o ajudam, como Will, companheiros integrantes da APBP, como Marcelo Cunha, Jefferson Maia e Victor Pesant, que luta contra dificuldades físicas parecidas com as suas, mas sempre que pode sai do Rio de Janeiro e vai visitá-lo em Búzios, para praticarem pintura.
Destaca também o carinho das empresárias Marta Queiroz e Janice Kunrath, que tentam ajudar o artista desde o lançamento do Projeto Destino Educação.
Força, Ezequiel!
