domingo, maio 5, 2024
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Crianças precisam de boas leituras

A escritora Flávia Rosas acaba de lançar um livro sobre Armação dos Búzios, para os jovens. Veja a entrevista concedida a Janice Kunrath.

A jornalista e escritora carioca Flávia Rosas, que há 33 anos vive em Armação dos Búzios, cidade litorânea situada a 180 km do Rio de Janeiro, na Região dos Lagos, acaba de lançar o seu sétimo livro infantil, que se propõe a contar a história do balneário.

Formada em Comunicação e Publicidade,  Flávia atuou como jornalista responsável na Rádio e na TV Búzios, foi editora no Jornal Buziano, diretora do Jornal Armação dos Búzios e jornalista responsável pelo programa Lagos Meio Ambiente, da Lagos TV.

Também é autora dos livros “A caixa com borboletas e o segredo do planeta”; “A luz que mora dentro da gente”; “O concerto do Planeta Cantante”; “Os dois pequenos landes – Uma fábula de sabedoria”; “Sempre Feliz! – Uma fábula de amor”;  e “Vovó Extraordinária! – De bem com o viver e o morrer”.

Nesta entrevista, além de falar dos bastidores de seus livros, Flávia ressalta a importância da boa leitura na formação das crianças.

Flávia assina o livro em parceria com Bento Ribeiro Dantas / Divulgação

JK – Como despertou em você o desejo de escrever livros poéticos, inspiradores, que transmitem mensagens tão humanas?

Flávia Rosas – Há alguns meses visitei o apartamento onde morei até os seis anos. Subi no mesmo elevador onde entrava dentro de carrinho, levada por minha mãe.  Caminhei pelo assoalho de tacos onde engatinhei, aprendi a andar e correr. Lá encontrei um armário em ipê, feito com madeira reaproveitada de antigas casas de funcionários da fábrica de meu avô. Parecia que ele estava ali. Tive vontade de abraçá-lo, envolvida pelo calor da memória e da imaginação. Um anzol de luz me levou para um lugar especial dentro de mim, embalou os sentidos e o espírito. Saí do apartamento feliz, com o entusiasmo de quem se vê frente a frente com uma pessoa querida, que já partiu para o plano espiritual há algum tempo. Nesse reencontro, a criança que trago em mim voltou à memória. Ela estava fechada no silêncio e nos sonhos, observando as miudezas da vida com encantamento. O coração vibrava com as árvores, com os desenhos das nuvens, com o cheiro do mar, com o abraço do vento. Escutar os grilos era uma oração. Penso que o despertar tenha ocorrido nesse momento, observando o livro da natureza.

JK – Quem foi a sua maior influenciadora, que motivou a sua inspiração para produzir histórias?

FR – Minha mãe foi a minha maior inspiração, força e impulso. Ela sempre me motivou, com uma força espontânea, instigando e nutrindo o que tinha de melhor em mim. E, principalmente, no modo como eu podia me expressar para extravasar os sentimentos. A menina que vivia em silêncio e não gostava de falar, quando aprendeu a escrever, conseguiu sair do casulo e se conectar com o mundo. Quanto mais escrevia, mais aumentava a capacidade de me perceber e conhecer os outros. Na medida em que compreendi o meu mundo, tornei-me amiga dele. E isso me deu determinação e coragem.

JK – Como se dá o processo criativo para a escolha do fio condutor de suas histórias?

FR – Elas nascem em um fato, o mais prosaico: uma conversa, uma leitura, o som das folhas balançando ao vento. Qualquer emoção que veio da vida e nos toca, inspira uma história. Todo livro é uma fantasia que ganhou corpo. E essa fantasia materializada vai estabelecer um diálogo profundo com a fantasia do leitor. E a partir dessa conversa, uma das mais íntimas que há, surge um novo mundo.

Uma constante na vida da escritora: o carinho de seus jovens admiradores / Divulgação

JK – Que significado suas histórias têm para você?

FR – Muitas vezes releio as histórias e me surpreendo, como se não as tivesse escrito ainda. Sabe quando um filho nasce, você olha aquele serzinho lindo, com os olhos brilhantes e parece que ele não nasceu de você? Com as histórias também acontece assim, elas são concebidas, gestadas, vêm ao mundo e não mais nos pertencem. Sempre senti que escrever é procurar amigos para decifrar mistérios. Um livro é a busca de uma conversa, é materializar o que nos inquieta. Quando escrevemos, abrimos uma janela, a paisagem que será alcançada com a vista está no coração de cada leitor.

JK – Você está sempre rodeada por crianças. Qual foi a pergunta ou comentário mais impactante feito por uma delas?

FR – Há dois anos, numa escola pública, quando fui ler para as crianças o livro “Vovó Extraordinária! – De bem com o viver e o morrer”, uma menina de 8 anos, chegou perto de mim e falou no meu ouvido: “Eu sei que você escreveu essa história para mim, a pedido da minha mãe, que já morreu. Fiquei contente por você trazer um pouco dela hoje. Sinto saudades”. Foi uma momento especial, como se essa criança fizesse parte de mim e estivesse ao meu lado não apenas naquele momento na escola, mas durante a costura da história.

JK – Como foi a experiência de escrever “A História de Armação dos Búzios” em parceria com o Sr. Bento Ribeiro Dantas?

FR – Comecei a escrever esse livro quando cheguei na cidade, há 33 anos. Foi pensado e escrito em parceria com um grande amigo, o Bento, e resgata um pedaço da história, testemunho de um tempo em um ponto do nosso Brasil. A parceria com ele é inigualável. Bento é incansável. Antes do início da pandemia estávamos visitando as escolas da rede pública, conversando, autografando livros e abraçando centenas de crianças. Ele sempre diz que quando o chamam para falar, sente que não tem nada para ensinar; mas possui um imenso desejo de compartilhar a sua humanidade e perplexidade. E eu, acrescento: compartilhar a sua poesia também. Isso me enternece. A poesia, a alegria e o amor das crianças ao receberem os livros, formam um todo, homogêneo.

JK – O livro sobre o Armação dos Búzios também foi lançado em e-book. O que você acha desse novo formato?

FR – Amo o papel, o cheiro, o contato físico. Ele é insubstituível. Mas o livro digital apresenta possibilidades encantadoras, facilita o acesso, é um imenso portal. Não é mais possível abrir mão desse novo canal para difundir as histórias.

JK –  Você demonstra a importância de expressar emoções, e no atual momento vivemos as restrições de uma pandemia, envolvendo milhões de pessoas. Pode ser o tema de seu próximo livro?

FR – Mesmo que não seja o tema, o momento que atravessamos fará parte do tempo que se segue ao presente, que ainda há de vir. Nossas experiências estarão impressas, ou melhor, já estão, naquilo que fazemos. A história que estou escrevendo revela muito desse momento.

JK –  Qual a importância da boa leitura para a formação das crianças?

FR – Histórias são alimentos mágicos que vivificam e nutrem. As crianças conhecem como ninguém esse encantamento. A palavra escrita desperta e faz compreender aquilo que nunca se escutou falar. O livro é a salvação do Brasil. É um ato que se prolonga na inteligência do ser humano. Os nossos governantes ainda não compreenderam que as crianças têm que mergulhar na leitura, não como um dever, mas como um prazer. A boa leitura é imprescindível, desperta sentimentos que nos conduzem pelo resto da vida.

JK –  Qual a mensagem que você gostaria de deixar  para os leitores de DESTINOS SERRA & MAR, sobre o momento que estamos vivendo?

FR – Hoje, o cuidado nos inspira. Não apenas na necessidade do uso de máscaras e na limpeza de nosso corpo, mas no cuidado com as pessoas que amamos – e também com as pessoas que não conhecemos -, com aquilo que fazemos, com o que consumimos e pensamos. Somos seres de solidariedade, isso nos faz humanos, nos aproxima uns dos outros. Precisamos apreender a lição de defender a centralidade da vida, com responsabilidades compartilhadas. Todo o caminho que nos leva de uma cultura a outra é longo e demorado, mas podemos começar com as crianças. Ao lado da inteligência intelectual que os pais e as escolas tanto aprofundam, precisamos incorporar a inteligência cordial, terna, da luz que mora dentro da gente. O conhecimento não é suficiente, precisamos de consciência: uma nova mente, um novo coração. Como observou Hannah Arendt: “Podemos nos informar a vida inteira sem nunca nos educar”. Hoje, precisamos nos reeducar e nos reconstruir como seres humanos.

Janice Kunrath é artista plástica e empreendedora nas áreas de turismo e eventos. Formada em Gestão Hoteleira, cursa Multimídia e Artes, Filosofia e Autoconhecimento. Nasceu no Rio Grande do Sul e viveu 21 anos em Armação dos Búzios, onde montou pousada e realizou diversos eventos para setor de turismo. Atualmente, estuda em Portugal, de onde faz a ponte para conectar pessoas entre os dois continentes e assim gerar novos negócios colaborativos.

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