“A argila é matéria viva, tem vontade própria. As vezes, a pessoa começa fazendo um projeto e termina materializando outro, bem diferente. Se você quiser fazer uma rosa, mas está pensando em espinhos, vai fazer espinhos, não espere o contrário”.
Quem ensina é Idamara Rizzo, coordenadora das atividades de oficina do projeto Caminhos de Barro, desenvolvido pela Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), que há 23 anos vem formando ceramistas e descobrindo novos talentos no artesanato com barro na Baixada Campista.
Explica que o município de Campos dos Goytacazes, no Norte do Estado, é um polo de cerâmica, possuindo mais de 100 indústrias, que produzem toda sorte de produtos feitos com a argila, desde tijolos rudimentares a esculturas artísticas. Preocupado com a degradação ambiental, pois a maioria dessas fábricas extrai matéria prima de forma aleatória, pois precisa de bastante quantidade de argila para produzir em larga escala, o projeto mantém parceria com empresa licenciada, devidamente legalizada e que fornece material de excelente qualidade.
Geração de renda e terapia
O projeto foi implementado para geração de renda e atendimento às artesãs que viviam à margem das olarias. Hoje, além de atender mulheres da Baixada Campista, expande seus benefícios a artesãs de outras partes do município e de cidades vizinhas, graças à parceria com a Prefeitura da Campos.
– Com a mesma argila que se fabrica tijolos a R$ 2,00, essas artesãs agora agregam valor à matéria prima, alcançando valores bem mais compensadores nas esculturas que produzem, vendidas, normalmente, entre R$ 100 e R$ 300, dependendo da peça e da técnica aplicada.
Trabalho em tempo integral
Atualmente, o Caminhos de Barro concentra dez ceramistas trabalhando em tempo integral nas oficinas da UENF. Metade delas foi capacitada pelo próprio Projeto, que continua disseminando conhecimento na região, atraindo novas artesãs. Além de gerar renda a atividade também tem um lado terapêutico, pois é recomendada a pacientes que estejam em tratamento psicológico e são acompanhados de perto pelos profissionais que os assistem. “Basta colocar a mão no barro para a pessoa perceber uma energia transformadora” – comenta Idamara.
– Cada uma de nós possui um vínculo pessoal com o barro. Umas desenvolvem o talento, outras buscam a paz, outras a cura. Ele é um grande amigo e nos ajuda a sobreviver de todas as formas, arremata Quésia Ribeiro da Silva, uma das veteranas do Projeto, do qual faz parte desde 2004.
Decorando o coração
Decorar com as próprias mãos é decorar com o coração – é o slogan do projeto “Caminhos de Barro” fundado em 2000, idealizado com objetivo de criar um espaço alternativo e privilegiado para a formação artística, cultural e técnica da comunidade local. Visa a construção de um espaço educativo para alavancar o processo de desenvolvimento social e econômico do Polo Cerâmico da região, fomentado pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro.
A “Escola Sede” amplia o Projeto, disseminando a arte cerâmica, atingindo um público mais abrangente, envolvendo além das comunidades, municípios vizinhos, instituições de apoio e amparo a jovens e crianças carentes, especiais, deficientes visuais, idosos e escolas públicas com a capacitação de professores de artes e assessoria para implantação de novas oficinas.
Está estruturado com uma escola sede (núcleo) que funciona na UENF e é parceiro de instituições de ensino e assistenciais denominadas de satélites, onde atuam artesãos disseminadores da arte cerâmica. Com subsídio da PROEX/UENF, sob a coordenação do Prof. Jonas Alexandre, forma uma equipe multidisciplinar, composta por voluntários, artesãos e técnicos bolsistas de Extensão e Universidade Aberta.
Para mais informações:
Caminhos de Barro
• Loja: @caminhosdebarroloja
• WhatsApp: (22) 99825-7621
