sábado, abril 27, 2024
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Marcenaria mostra um novo caminho para a educação infanto-juvenil

Professor da UFRJ sonha em criar ONG para transformar pequenos aprendizes em excelentes trabalhadores e cidadãos respeitados

Depois de levar para os alunos da Escola Politécnica da UFRJ, no Fundão, um novo conceito na Engenharia Civil baseado na construção modular, com o uso da madeira “engenheirada”, o professor Associado, Luís Otávio Cocito de Araújo, 49 anos, decide enfrentar novo desafio. Seu objetivo, agora, é de envolver crianças no ecossistema em torno da madeira.  

Entende que a personalidade infantil – ele é pai de duas meninas, Maria Alice, 9 anos e Angelina, 2 – também pode ser “torneada” a partir da valoração do trabalho manual. Enxerga, na madeira e em técnicas básicas de marcenaria, um caminho saudável para atingir este propósito.

Em 2012, Luís e seus irmãos plantaram uma pequena floresta de mogno africano no sítio dos pais em Rancharia, São Paulo. “Evoluir em ideias a partir do desenvolvimento das filhas e da floresta. Assim é que os projetos vão surgindo e se entremeando”, comenta o professor, graduado em Engenharia Civil. Hoje é nítida a percepção de que madeira e educação possuem muito em comum. Têm movido o engenheiro e educador em uma nova proposta de vida e ensino, envolvendo crianças, jovens e adultos a partir dessa matéria prima. 

O professor Luís Octávio, da UFRJ, um apaixonado pelo uso da madeira na formação dos jovens – Foto MV/ Rafael Miller

 

Praga deu origem a painéis de arte

Percalços ao longo do caminho serviram de inspiração. Foi assim, por exemplo, que, dois anos após o plantio da floresta de mogno, algumas árvores precisarem ser extraídas precocemente para controle de uma praga. Ao ver os troncos serrados, o professor teve mais uma ideia: cortá-los em fatias, como se fossem bolachinhas. Dias depois, convocou a família para um desafio de criatividade: espalhou as rodelas de mogno sobre a mesa e lançou a pergunta: O que vocês gostariam de fazer com isso?

A sugestão de transformá-las em “painéis de arte” foi a escolhida. Contando com o talento de funcionários do sítio, uma coleção de painéis de arte tomou forma e hoje decora residências de familiares e amigos, tornando-se um registro significativo daquela fase da “mognaria”.

“Bolachinhas” de mogno africano deram origem a painéis artísticos, em São Paulo – Acervo do Prof. Luís Octávio

 

Casal mostrou o caminho

Entre uma ideia e outra, sempre tendo a madeira a determinar propósitos, Luís Otávio tomou conhecimento do projeto desenvolvido pelo casal Luke e Allison Johanson, dois sonhadores como ele. Montaram diversas bancadinhas de marceneiro para crianças de sua comunidade, no Colorado, EUA, desenvolverem habilidades manuais. De início, seria apenas uma atividade de férias. Mas a aprovação foi tão grande que a comunidade sugeriu que as autoridades do condado incluíssem o projeto das bancadinhas na grade escolar. O condado aprovou e as crianças passaram a frequentar as bancadas uma vez por semana.

Luís Otávio ficou empolgado com a proposta educacional. Principalmente, quando soube que a iniciativa era uma prática antiga, criada na segunda metade do século XIX, por dois educadores nórdicos. Foram eles que espalharam pelo mundo a genialidade das bancadinhas de marceneiro. Na verdade, os Johanson apenas adaptaram a metodologia Slöyd – como foi batizada por seus criadores – às necessidades atuais do ensino e da vida profissional.

O professor da UFRJ já fez diversos contatos com os Johanson, recebeu orientações e apoio do casal norte-americano, e vem tentando a ajuda de empresários, para a doação de bancadas e ferramentas para implementar a “experiência Sloyd” no Brasil. Até aqui contou com recursos próprios para a compra de ferramentas, todas manuais, nenhuma elétrica. Assim como Luke e Alisson, ele também sonha que o projeto das bancadinhas decole e possa levar às crianças do país inteiro, quem sabe, uma nova proposta educacional a partir do trabalho com madeira. Mas para que isso se torne realidade será necessário o engajamento de apoiadores e patrocinadores. 

No método Slöyd, o jovem aprende a fazer tudo sozinho na sua bancadinha de marcenaria – Foto Slöyd/ Divulgação

 

Como funciona o método Slöyd 

 Trata-se de um sistema de educação baseado no artesanato em madeira iniciado por Uno Cygnaeus, na Finlândia, em 1865. O sistema foi aperfeiçoado e disseminado em diversos países, incluindo os Estados Unidos, onde foi adotado até o início do século XX.  Ainda é ensinado como disciplina obrigatória nas escolas finlandesas, dinamarquesas, suecas e norueguesas, países que se destacam entre os mais desenvolvidos do mundo. Foi popularizado pelo educador e escritor sueco Otto Aron Salomon (1849-1907), que se tornou diretor do Seminário de Professores Slöyd em Nääs, na Suécia. Através de seus livros, educadores de todo planeta tiveram acesso à metodologia do trabalho artesanal.

Em contatos via internet, o professor Luís Otávio tornou-se amigo do casal Luke e Allison Johnson, cofundadores da ONG Slöyd Experience, organização sem fins lucrativos, localizada em Boulder, no Colorado, EUA, que atende jovens com idades de 6 a 14 anos. Através do simples ato de “trabalhar com as mãos”, a ONG visa promover a integralidade educacional e superar as lacunas do sistema educacional. Baseia-se em seis competências essenciais, bases da sua missão: autossuficiência, organização, perseverança, concentração, resiliência e amor pelo trabalho.

 

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