Marcelo Cunha
Desde 2012, em toda terceira semana do mês de maio é comemorado o Dia Mundial da Conscientização sobre a Acessibilidade. A data surgiu na Califórnia, Estados Unidos, a partir da reflexão do desenvolvedor Joe Devon e pelo profissional de acessibilidade Jennison Asuncion. De pronto o tema despertou a atenção da Revista Destino Serra e Mar, sobretudo por ser um dia de conscientização da sociedade sobre a importância da acessibilidade digital para as pessoas com deficiências congênitas ou adquiridas, como a que passei a enfrentar.
Com o dilema da tetraplegia em 1991, a criação de adaptações para o meu crescimento nunca cessou. Não é por acaso meu apreço pelos suportes de leitura, mesas de apoio de notebook e adaptações para digitar. Por vezes as dificuldades eram gigantescas como a desigualdade de acesso ao universo digital, mas não maiores que o desejo de ter as conquistas inerentes à educação formal. Além da pintura, passei a escrever livros, matérias e reflexões. No entanto, uma recente descoberta permitiu que todos as engenhocas fossem substituídas para ter uma acessibilidade e autonomia digital como nunca havia imaginado.
Desenvolvido em pela Tix Startup, com tecnologia 100% brasileira, o Colibri é um dispositivo óptico que capta os movimentos intuitivos da cabeça para controlar o ponteiro do mouse com precisão. Assim, também utilizo celulares e computadores, elaborando com facilidade esse texto, e isso deitado! Como várias outras descobertas relacionadas à pessoa com deficiência, o Colibri tem transformado a realidade de usuários com os comprometimentos motores.
Esses avanços podem mudar a vida não apenas da pessoa com deficiência, mas de toda a sociedade. De maneira geral, somos impactados pelas novas tecnologias, bem como a relação saúde e internet, que se materializa em diversas iniciativas inovadoras. Nesse contesto, toda forma de acessibilidade é fundamental por manter viva a esperança de alcançarmos uma plena inclusão.
Contudo, a pessoa com deficiência ainda é vista como incapaz de ter vida ativa. No cotidiano, as capacidades e habilidades precisam ser reafirmadas. Por vezes é inevitável lutar contra tudo o que impeça a inclusão social, econômica, digital e etc. Enfim, resta empunhar a “bandeira de Joe Devon” e tantas outras louváveis mobilizações.
É o que nos mantém vivos, certos da construção de um novo olhar da sociedade sobre as ilimitadas possibilidades que se erguem com a queda das barreiras digitais.
Marcelo Cunha é artista plástico, filiado à APBP (Associação de Pintores com a Boca e os Pés) desde 2004
